O sururu (da língua tupi, significando "escorrido", do verbo sururu: "vasar", "derramar")[4] é uma espécie de mexilhão[5][6]; um molusco bivalve marinho, costeiro e estuarino, da família Mytilidae, cientificamente denominado Mytella strigata (no passado, também denominado Mytella charruana ou Mytella falcata, por Alcide Dessalines d'Orbigny)[1][3][7]; popularmente nomeado, em inglês, falcate swamp mussel[8] ou charru mussel.[9] No litoral brasileiro, a espécie também recebe as denominações populares siriri, uma variante linguística, alastrim ou sururu-de-alagoas, segundo o Dicionário Aurélio[7] (sendo abundante nas lagoas de Manguaba e Mundaú, Alagoas)[5]; com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa acrescentando os nomes bacucu, bico-de-ouro, maria-preta, marisco-do-mangue, mexilhão-do-mangue, pretinho e sururu-do-mangue; não especificando que tais termos sejam necessariamente aplicados sobre a espécie Mytella strigata; ainda acrescentando que os termos sururu-da-vasa e sururu-de-alestrim especificam os habitats onde se encontram (respectivamente o fundo de lagoas, em meio ao lodo, ou se desenvolvendo em paus da linha da maré, junto às cracas), e que os termos sururu-de-capote e sururu-despinicado especificam, respectivamente, os indivíduos vendidos com ou sem a sua concha.[10] No Paraná, Região Sul do Brasil, também é conhecido como marisco-de-dedo.[2] Sem citar qual a espécie, Rodolpho von Ihering aponta que Wilson da Costa comenta sobre a existência, no Maranhão, de um sururu-de-coroa, que vive em "mantas", ou camadas extensas de "coroas de areia", não atingindo maiores dimensões; além de citar um sururu-de-punho, "que vive no tijuco do mangue, onde deixa pequenos orifícios à flor do mangue, para respirar".[6] Tais hábitos fossoriais, deste sururu-de-punho, não são típicos do sururu verdadeiro; que vive agregado, submerso na água, formando "cachos" e bancos na região entremarés[2], e porque os mexilhões são caracterizados pela presença de tufos de filamentos escuros que prendem esses animais às rochas (bisso).[11] O fato é que outra espécie, Mytella guyanensis (Lamarck, 1819), quando exposta à maré baixa pode enterrar-se no substrato até uma profundidade de 20 centímetros (KLAPPENBACH, 1965), podendo ser a que Wilson da Costa descrevera.[12]
Em seu livro Moluscos Brasileiros de Interesse Médico e Econômico, Alexandre Valente Boffi nomeia todos os mexilhões da costa brasileira com o nome sururu[12], enquanto o malacologista Eliezer de Carvalho Rios cita este nome apenas para Mytella strigata.[1]
A espécie Mytella strigata foi classificada pelo malacologista britânico Sylvanus Charles Thorp Hanley; denominada Modiola strigata, em 1843, na obra An illustrated and descriptive catalogue of Recent shells, by Sylvanus Hanley.[3][13]
De acordo com um texto publicado em 2016 na Revista Semioses (v 10, n.03), o sururu é a "espécie mais explorada na costa brasileira, principalmente por população ribeirinha" (citando PEREIRA, 2014), sendo utilizado "não só como forma de subisistência, mas também para comercialização do produto".[14] De acordo com Eurico Santos, citando um observador de seu comércio, a procura do sururu para alimentação chega a ser impressionante, tal o hábito enraizado e já tradicional que tem o povo, seja rico ou pobre, de apresentá-lo em sua mesa, quase diariamente. Por isso mesmo, o seu valor na economia popular é grande e considerável o seu comércio. Ainda comenta que a Great Western of Brazil Railway possuía trem cuja denominação era trem de sururu, contendo "4 a 5 carros carregados de sacos com sururu envolvidos em lama, para chegar vivo aos mercados interiores, indo até Palmeira dos Índios"; e que "em Maceió funcionou por muito tempo uma fábrica de conserva de sururu, que foi obrigada a fechar desde que a produção começou a tornar-se irregular", isto em virtude de sua sobrepesca.[5] Tal fábrica se chamava A Mercantil Ltda, fundada no final da década de 1920 e início da década de 1930, que inclusive exportava o seu produto como finíssimo, de agradável gosto e excelentes qualidades nutritivas.[15] Trata-se de uma iguaria muito conhecida nos estados da Região Nordeste do Brasil, onde é apreciada em pratos típicos, como o caldo de sururu, preparado com alguns vegetais[16], que é feito com azeite de dendê[17], ou azeite de oliva[18], e leite de coco[17]; ou até mesmo em preparos com molho de tomate ou com farofa, como se fosse uma casquinha de siri[19], ou utilizado em saladas a vinagrete.[16] Em Alagoas é saboreado cru, enriquecido com limão e sal de cozinha; muitos acreditando que este molusco tenha o poder de curar pessoas ou revigorá-las sexualmente.[18] Já no Espírito Santo, na Região Sudeste do Brasil, ele é utilizado em moquecas.[17] Está citado que o valor protéico desta espécie equivale ao da carne de frango ou de boi.[20] Também faz parte da composição de diversos sambaquis ao longo da costa brasileira e seu uso se extende na utilização como matéria-prima para o artesanato.[21] Em 11 de dezembro de 2014, o molusco foi decretado Patrimônio Imaterial de Alagoas por seu Conselho Estadual de Cultura; principalmente após os esforços do antropólogo Edson Bezerra, autor do livro Manifesto Sururu: Por uma Antropofagia das Coisas Alagoanas[22][23]; havendo época em que era comum se referir a Alagoas como a terra do sururu e ao alagoano como papa-sururu; além de se dar o nome de sururuzeiro a seu coletor.[24]
Mytella strigata possui uma concha alongada e de valvas similares, com até 5 centímetros de comprimento; dotada de um fino perióstraco enegrecido e com linhas de crescimento aparentes; com uma das laterais levemente retraída, de coloração castanho-amarelada em sua região umbonal-ventral e esverdeada na região dorsal. Seu interior é arroxeado.[1][2][20][21][25]
Ilustração da concha de M. strigata publicada no Proceedings of the United States National Museum. 37.
A distribuição geográfica da espécie se estende da Venezuela à Argentina, no oceano Atlântico, e do México ao Equador, no oceano Pacífico[14]; sendo uma espécie invasora na Região Sudeste dos Estados Unidos, inicialmente encontrada em Jacksonville[26], condado de Duval[27], Flórida, em 1986, cobrindo um tubo de entrada de água do mar de uma usina; não sendo encontrada nos anos subsequentes até 2004, quando fora encontrada na praia de New Smyrna Beach, em um recife de ostras do condado de Volusia.[26] Desde então a espécie fora avistada também nos condados de Flagler e St. Johns, ao norte; além dos condados Camden, Liberty e Bryan, na Geórgia.[27] No Extremo Oriente asiático e Indo-Pacífico esta espécie fora encontrada em Singapura, Índia (em Querala), Filipinas (em Lução) e Taiwan, a partir do início do século XXI.[28][29]
Considerada uma espécie comum no século XX[8], Mytella strigata está listada como espécie pouco preocupante (LC) no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, publicado em 2018 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, com a conclusão desta avaliação feita em 2012.[30]
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(ajuda) O sururu (da língua tupi, significando "escorrido", do verbo sururu: "vasar", "derramar") é uma espécie de mexilhão; um molusco bivalve marinho, costeiro e estuarino, da família Mytilidae, cientificamente denominado Mytella strigata (no passado, também denominado Mytella charruana ou Mytella falcata, por Alcide Dessalines d'Orbigny); popularmente nomeado, em inglês, falcate swamp mussel ou charru mussel. No litoral brasileiro, a espécie também recebe as denominações populares siriri, uma variante linguística, alastrim ou sururu-de-alagoas, segundo o Dicionário Aurélio (sendo abundante nas lagoas de Manguaba e Mundaú, Alagoas); com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa acrescentando os nomes bacucu, bico-de-ouro, maria-preta, marisco-do-mangue, mexilhão-do-mangue, pretinho e sururu-do-mangue; não especificando que tais termos sejam necessariamente aplicados sobre a espécie Mytella strigata; ainda acrescentando que os termos sururu-da-vasa e sururu-de-alestrim especificam os habitats onde se encontram (respectivamente o fundo de lagoas, em meio ao lodo, ou se desenvolvendo em paus da linha da maré, junto às cracas), e que os termos sururu-de-capote e sururu-despinicado especificam, respectivamente, os indivíduos vendidos com ou sem a sua concha. No Paraná, Região Sul do Brasil, também é conhecido como marisco-de-dedo. Sem citar qual a espécie, Rodolpho von Ihering aponta que Wilson da Costa comenta sobre a existência, no Maranhão, de um sururu-de-coroa, que vive em "mantas", ou camadas extensas de "coroas de areia", não atingindo maiores dimensões; além de citar um sururu-de-punho, "que vive no tijuco do mangue, onde deixa pequenos orifícios à flor do mangue, para respirar". Tais hábitos fossoriais, deste sururu-de-punho, não são típicos do sururu verdadeiro; que vive agregado, submerso na água, formando "cachos" e bancos na região entremarés, e porque os mexilhões são caracterizados pela presença de tufos de filamentos escuros que prendem esses animais às rochas (bisso). O fato é que outra espécie, Mytella guyanensis (Lamarck, 1819), quando exposta à maré baixa pode enterrar-se no substrato até uma profundidade de 20 centímetros (KLAPPENBACH, 1965), podendo ser a que Wilson da Costa descrevera.
Em seu livro Moluscos Brasileiros de Interesse Médico e Econômico, Alexandre Valente Boffi nomeia todos os mexilhões da costa brasileira com o nome sururu, enquanto o malacologista Eliezer de Carvalho Rios cita este nome apenas para Mytella strigata.